sexta-feira, 26 de junho de 2009

Desacordo ortográfico

De novo muitos críticos do acordo ortográfico. Muito frequentemente com linguagem empolada, ferida, e displicente para com o esforço de uma escrita comum. Na Internet, com toda a liberdade que ela propicia, prevalece um discurso pessoal, do género: "não vou falar pretoguês". Racismo, afinal. Que outra coisa senão racismo, ainda que não apercebido?
Temos dito e repetido: uma reforma ortográfica não muda a Língua. Muda apenas a forma (superficial, epidérmica: formal...) de a escrever, e é uma oportunidade para racionalizar e uniformizar essa escrita. O que tem vantagens no Mundo, que, ao aprender Português acaba afinal por optar sempre pelo português do Brasil, porque (tenhamos ideia da nossa dimensão - pelo menos aos olhos dos outros) o português de Portugal representa 10 milhões ou pouco mais. É curioso que os maiores velhos do Restelo do legítimo e puro português de Portugal estão a condená-lo a ser um dialecto de uma língua sobretudo brasileira.

Claro que custa aprender novas regras a Portugueses e aos demais Lusófonos. Mas o que vai custar a esta geração se ganhará nas próximas. Não é um milagre, mas ajuda à nossa comunidade, à nossa cultura, ao modo de ser que se veicula pelo falar e pelo pensar em português.
Olhem se por dificuldade em fazer contas também tivéssemos sido contra o "Euro" e desejássemos guardar o velhinho "escudo". Não haveria escudo que nos salvasse agora na crise.
Seria bom que ultrapassássemos o comodismo de não reaprender meia dúzia de regras. É curioso como dos dois lados do Atlântico, sem que haja diálogo, as pessoas se negam a querer escrever o português "do outro". Que querem preservar a própria língua. Quando não é de português "do outro" que se trata, mas de uma nova forma, em acordo, que comporta até possibilidades de variantes.

Receio que muito do nacionalismo linguístico que por aí anda não seja mais que comodismo pessoal. Ninguém quer hoje aprender muito. E reaprender a escrita parece uma condenação ao degredo dos bancos da escola elementar, ou primária... como se diz de um e do outro lado do Oceano.

1 comentário:

  1. Tenho certas reservas quanto ao modo como se conduziu a reforma - via de regra conduzida por burocratas e votada por políticos... não fosse isso, ao invés de diminuir e simplificar (que presume-se seja seu objetivo) complicou tudo bem mais. Ora, tira-se um sem-número de regras de acentuação e acrescenta-se outras tantas mais! Faz sentido?! De mais a mais, me pergunto, se, pela saída do acento diferencial, a língua não fica mais bruta, crua e - por quê não dizer - burra?! É só lembrar: "Lula para o Senado" e "Lula pára o Senado" ficariam iguais... Pitoresco, não?! Pitada de preconceito que haja, continuo escrevendo da forma antiga. E, posso apostar, a tal reforma não dura muito... logo inventam outra pra corrigir as burradas da primeira...

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