terça-feira, 23 de dezembro de 2008

É Natal, ninguém vai levar a mal...


PRONTO PRONTO... EU SEI QUE É NATAL... Pois é... Ficamos então combinados só começar este blog a a sério depois do Dia de Reis, e podemos trocar presentes e comer bolo rei (e comidas mais republicanas também: como o pluralista bacalhau com todos) à vontade entretanto...

Sugiro, inspirado numa troca de impressões com o Tiago (mas a culpa é minha na proposta), que talvez fosse preferível cada um de nós ficar com um dia da semana... Era mais variado e menos cansativo... Sem prejuízo, claro, de postais a todo o momento, quando cada um achasse oportuno.

Assume-se, então, a pausa breve de Inverno, herdeira das antigas e saudosas férias de Natal, quase grandes, e ficamos todos combinados começar lá para dia 7. Quem começa? voluntários para dias?

Os melhores votos...

sábado, 20 de dezembro de 2008

Sugestão


Caros Co-autores do Blog:

Que acham de dividirmos os meses em 4 semanas e as semanas pelos co-autores? Sem prejuízo de qualquer um de nós escrever quando por bem achasse, cada um de nós ficaria com uma semana por mês co-responsável por emitir postais...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Encruzilhada em Atenas


Talvez os analistas (oficiais, oficiosos e ociosos) de 1968, tivessem visto os acontecimentos estudantis de então em França, antes de toda a racionalização e cálculo político, como uma confusão, um grito inarticulado, algo de quase impolítico.
O que se tem dito sobre os acontecimentos mais recentes na Grécia também não anda muito longe, em geral, dessa ideia de "revolta" tout court, que cuidadosamente se aparta a anos-luz da revolução.
Discutimos no Clube 4.ª Dimensão o Maio de 68 e o futuro. Aprendi muito.
Não sabemos, tudo somado, quais as consequências deste movimento. A História está a dar a volta, a sua própria revolução. Como farsa agora, depois da sua primeira vez trágica, para retomar Marx? Não sei se como farsa.
Há problemas de todos os tempos. E os tempos não estão simples, nem fáceis.
Se parece que alguns neoliberais se estão a converter "ao socialismo", a inversa parece a alguns (com maior ou menor purismo) também verdadeira. Mas as conversões não serão, em ambos os casos, a "outras coisas"? Será que os tempos são de volta do socialismo, ou de um novo paradigma, que espera uma designação? Para já é de saudar a discussão sobre o socialismo e a ideologia em geral. Tempos afinal de esperança: ainda que de constatação da crise.
Crise que pode ser Kairos também.
Este postal é reticente e às voltas. Como ainda o horizonte.

(na imagem: escadaria da universidade de Atenas)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

tema: LIBERDADE OU NÃO?


Gostava que propusessemos de vez em quando temas de dissertação aqui, uns aos outros, e aos visitantes também. Recordo que foi com um procedimento semelhante que nasceu esse texto fundador da nossa cultura de Liberdade, o Was ist Aufklaerung, de Kant.

A minha primeira proposta seria, se estiverem de acordo:

O SÉCULO XXI SERÁ DE LIBERDADE OU NÃO O SERÁ.

Podemos tomar partido a favor, contra, ou matizar a questão.

Boas respostas!

Colóquio Maio de 68 e o futuro do Socialismo


No dia 17 de Dezembro, no Hotel Ipanema Porto (R. do Campo Alegre), com jantar a começar às 20 h, mas prologando-se, em debate, vamos discutir o Maio de 68 e o futuro do Socialismo.

É uma iniciativa do Clube de Política 4.ª Dimensão.

Mário Soares não poderia ter sido mais oportuno, com um artigo de hoje, no "Diário de Notícias", em que afirma: "A França foi a primeira a inquietar-se. Com razão. Quando há uma crise latente, que fere em consciência as classes médias, qualquer pretexto serve para gerar a revolta. Maio de 68 foi assim. De Gaulle, que era o De Gaulle, desapareceu e esteve dois dias na Alemanha a ouvir as forças militares de ocupação ali estacionadas.".

Serão oradores: Doutor António de Almeida Santos, Presidente do PS, Doutor Fernando dos Santos Neves, Reitor da Universidade Lusófona, Doutor Fernando Pereira Marques, Professor universitário e ensaísta.

A participação no jantar está, como é natural, sujeita a inscrição (rdacunha@netcabo.pt). Mas depois a entrada no colóquio é livre...

Tenho também já a confirmação de que vai estar uma "plateia" concorrida e pluralista no espectro político...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Hymno da Respublica da Lysia



“Vento a Lísio”

Ò Lísia, brisa de esperas
De promessas e tormentas
Os sonhos que acalentas
E esses feitos que intentas
Em todas as Primaveras

Refrão

Liberal Constituição é o caminho
Uma Carta Socialista desejada
Vem amigo, e chama teu vizinho
Viva a Lísia viva, ou viva nada.


Lísia amada doce e branda
De suave sol dolente
O êxtase acariciando
Em vago sabor ausente
Que o presente degustando
Gosta e desgosta, mas sente.

E tu ò Vento a Lísio adormecido
Toca a rebate o carrilhão da Liberdade
Pura Democracia é o sentido
Pois já chegou a hora da Verdade.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Quesitos para mudança de vale...



Solicito, para os devidos efeitos, a transferência da minha residência para sítios de lísia esperança, próximos deste meu refúgio de Vale de Lobos, com base nos seguintes quesitos:



Sempre gostei que comigo entrassem em contradita, pelas ideias a que me dou e pelas quais me manifesto e não pelos fantasmas que alguns dizem que tenho, só porque não penso aquilo que convém, quando sinto ter o dever de pensar, mesmo quando o professo em contra-corrente.


Por isso não me amedrontam os adjectivos diabolizantes dos pequenos inquisidores que caçam nas névoas dos bruxedos.


Penso o que tenho o dever de pensar e cumpre-me dar disso testemunho, mesmo que corra o risco de estar em minoria.


Porque ter coragem é não contabilizar a opinião quantitativa e não procurar saber de que lado sopra o vento. Pensar é resistir, é ter a coragem de sermos minoria, assumindo a atitude daquele que, para estar de acordo consigo mesmo, tem, por vezes, que estar em desacordo com todos os outros, não para "épater le bourgeois", mas para servir a comunidade, mesmo que a comunidade o não reconheça no seu próprio tempo de vida.


Pensar é, para esses seres semoventes, entoar uma espécie de música celestial que só influenciaria os habitantes da utopia. Porque, aqui e agora, o dinheiro que compra o poder e a inteligência, o dinheiro que dobra as vontades, começa a tornar-se no valor predominante.


Escrever é assumir o risco de viver, de estar sempre à beira de um abismo onde, muitas vezes, não existem corrimões nem as habituais redes protectoras que nos sustenham a queda, como é habitual neste país de meias tintas, entre a esquerda menos e a direita envergonhada, onde quem é do centro, muitas vezes, não passa de um jogo de soma zero, resultante da mistura da esquerda mais com a direita menos, ou do mais direita com o menos esquerda, como sempre foi a preferência dos vários situacionismos, onde sinais contrários não conseguem disfarçar a existência da mesma substância.


Nós e aquilo que temos a ilusão de criar não passamos da poeira de um caminho que nossos vindouros hão-de calcorrear. Importa ter a humilde consciência deste dever. De sermos parcela da longa corda de transmissão de um sinal de sonho. E é nesta postura de serviço que conquistaremos a eternidade, mesmo que não o registem em nota de pé de página.


No intervalo, apenas seremos compreendidos pelas almas gémeas que servem connosco o mesmo objectivo desta procura colectiva. Mesmo que não surjam anónimos sinais de irmandade. Quem tem a consciência de assim estar vivo e sentir o silêncio dos que, em fidelidade, comungam connosco do mesmo ideal de vida, apesar de se poder sentir só, sabe, intimamente, que não está só e que muitas outras mãos nos querem dar as suas mãos de escrita.


O elemento mais marcante do salazarismo sempre foi a hipocrisia. Pior: o paradoxo de se fazer um discurso contra a hipocrisia a fim de se fazer ainda mais hipocrisia. Isto é, teorizando-se a necessidade da autenticidade, faz-se o exacto contrário do que se vai proclamando.

10º
E agora tudo se disfarça com as mãos papudas do salamaleque de salão, com a cadeirinha de coiro preto, sacanamente posta para o tolo do gabiru julgar que o assassinato pode ser gratificante. E tudo sempre na solenidade ritual de gabinetes grandiosos, onde a luz esguia dos candelabros, o óleo frio dos quadros épicos e o retorcido das escrivaninhas, nos parece transportar para a delícia cultural dos livros de carneira cheios de bicho, cheirando ao mofo dos inquisidores da treta.

11º
O chefe supremo tem sempre as mãos higienicamente desinfectadas, porque ele apenas é mais um desses honestos que, infelizmente, tem que gerir uma plebe de intermediários desonestos, desde a bufaria dos serviçais que esperam ser promovidos, à minoria dos jagunços violentistas, numa rede que só é eficaz se o vértice continuar a parecer o exacto contrário daquilo que o conjunto é, na realidade.

12º
A rede de dependências e medos vai continuar enquanto não assumirmos que em situações pós-totalitárias e pós-autoritárias, mesmo depois de se eliminarem os aparelhos visíveis da repressão e da corrupção, permanecem os subsistemas de medo e de venalidade que os mesmos geraram.

13º
Pior: abundam os micro-autoritarismos sub-estatais e esses modelos de temor reverencial podem aí ser substancialmente agravados e fomentados, principalmente quando as pequenas e os pequenos chefes do bando actuam em legítima defesa, em épocas de transição ou de crepúsculo.


14º
Neste regime de pequenos feudalismos em que se enreda o oportunismo lusitano, o longo prazo do combate por ideias nunca conseguirá ter qualquer espaço de comunicação com o frenesim do mediático. Os candidatos com mais sucesso, silenciando irreverentes, souberam criar uma espécie de sociedade de Corte, tecendo uma rede de fidelidades e simpatias, tal como ilustres gestores do presente aparelho de Estado subiram ao poder gerindo adequadamente o saco azul, vermelho, preto ou amarelo dos pareceres e avenças.

15º
Por outras palavras, o quintal português da feira das vaidades é estreito demais tanto para a autonomia da sociedade civil como até para efectiva expressão da liberdade de pensamento. Os grandes controleiros deste pequeno "big brother" devem ser, aliás, os primeiros que se riem com os habituais invocadores da chamada teoria da conspiração. E isto porque a estreiteza do nosso espírito capitaleiro produziu uma lógica de campanário na nossa principal aldeia, a que damos o nome de Lisboa.

16º
Quando a política de campanário nos vai fragmentando em facciosismos e pequenas zangas de comadres e compadres, onde não faltam os potentados dos pequenos e velhos padrinhozinhos. Quando o futuro se confunde com cinematográficos regressos ao passado e quase todos se diluem na procissão carneiral dos colectivismos morais, importa reparar que à míngua de pátria é o povo comum que começa a perder a vontade de sorrir.

17º
Quando é a esperança colectiva que vai definhando, face à falta de sentido cívico e ao vazio de justiça, começamos a notar que surge uma sociedade de ouriços cacheiros, onde em vez do individualismo da criatividade pessoal e das boas sociedades de egoístas, começa a marcar ritmo de desespero o "vê se te avias" e a moral do sapateiro de Braga, onde tanto não há moralidade como ninguém come nada.

18º
O próprio discurso sobre o bem comum foi esfacelado e usurpado por vendedores de banha da cobra que o encomendaram aos assessores honestos que recrutaram no mercado do proletariado intelectual. Os tais para quem a moral é uma lei que eles impõem aos outros, mas de que se pensam dispensados pela graça do poder, esquecendo-se que não podem invocar tais normas de autonomia os que são exemplos de falta de autenticidade. E não nos parece que os anunciados candidatos à reflexão presidencial tenham suficientes saudades de futuro para provocarem o urgente acordar deste nebuloso letargo em que nos vamos enrodilhando.

19º
Este profundo estado depressivo em que nos deglutimos nada tem a ver com as tensões do tudo e do seu nada de anteriores crises colectivas, quando a alma colectiva ainda não era pequena e nos entusiasmavam os sonhadores activos. Agora, vive-se uma espécie de definhamento com barriga cheia e luxo à farta, com que vamos alimentando a ilusão de ainda sermos uma comunidade nacional.

20º
A mentalidade típica de certos donos do poder está em que entre a teoria e a prática tudo é teoricamente prático e tudo é praticamente teórico, porque, na prática a teoria é outra. Mas, como pela boca morre o peixe e estamos na terra do sapateiro de Braga e de Frei Tomás, se uns logo observam que ou há moralidade ou comem todos, muitos outros logo reconhecem que bem pregas Frei Tomás.

21º
Enquanto estes pálidos e pretensos taumaturgos continuarem nos pedestais do seu ministerial despotismo, não são possíveis gestos com sentido. Eles prostituíram a palavra e profanaram os símbolos. Pujantes em seu efémero julgam-se donos da eternidade. E se alguns dos que vivem como pensam podem volver-se em agnósticos, muitos outros ainda continuam a semear a esperança dos desesperados.

22º
O proibicionismo caceteiro e a persiganga, só porque assentam nos donos do subsidiável e do inspeccionável e que nem sequer têm que registar interesses e acumulações, podem continuar a inspirar muitas transpirações serôdias, inumeráveis cortes de salamaleques, lisonjas e engraxamentos, mas acabam por contribuir para o nosso fenecer sem honra nem humildade.

23º
O decretino e o mediático podem ter, no curto prazo, a razão da eficácia, mas nem por isso se livram de poderem ser um clamoroso erro no médio prazo e até uma estupidez destrutiva no longo prazo. De boas intenções está o inferno do pseudo-reformismo cheio

24º
Não há meio de compreenderem que a história, mais do que o produto da intenção de certos homens que dizem deter o monopólio das boas intenções, é, sobretudo, o produto da acção dos homens livres. A história é sempre uma co-criação de homens livres e raramente é detida pelo caixilho teórico dos que apenas pensam que pensam.

25º
O dominador sempre conseguiu controlar as esperanças e domar as ilusões, através do magistral uso do chicote e da cenoura, usando apenas o primeiro de forma selectiva, de maneira a liquidar as cabeças que se assumem como alternativas oposicionistas.

26º
A cultura imperial-otomana que nas amarfanha, pintando-se de bom pai tirano, sempre soube manipular de forma magistral o pão e o circo, desde a jantarada à custa do dinheiro do contribuinte, às sucessivas farras e guitarradas, para que a rapaziada se embebede e não cuide da chefia da cidade.

27º
E neste ambiente de acrítico louvaminheirismo continua a ser pecado produzirmos simples farpas que ousem sair da mediania estupidocrática dos produtores de hossanas nas alturas aos contadores de histórias que ocupam as chefias.

28º
Porque ninguém ousa dizer em voz alta, mesmo sem berros, o que todos vão comentando pelo sussurro, sobre a total inutilidade de instituições que, sem ideias, apenas servem de corrimão para gentes viciadas em protagonismos balofos de falso mediatismo, apesar de as cortes se emprenharem em ilusionismos activistas

29º
Ainda há instituições que continuam a ser espaços infradomésticos de falso paternalismo, porque ingloriamente dependentes de certos capatazes e dos respectivos fiéis. E nesse universo de cinzentismo pós-totalitário, quem se assume da oposição quase parece que comete um pecado, porque os donos e senhores da coisa logo dizem que monopolizam o conceito de bem institucional, considerando os divergentes como dissidentes a abater. E assim podem sobreviver, para além do prazo de validade, sistemas imperiais de gestão, marcados pela arendtiana categoria do governo dos espertos, onde se manipula a legalidade, conforme o uso que dela podem fazer os espiões da Razão de Estado. Os quais nem sequer alguma vez compreederam o mínimo denominador comum da civilização do Estado de Direito.

30º
A cultura da dependência, gerada pela estreiteza de vistas do paroquialismo balofo e pelo charlatanismo dos piratas com chapéu de coco, que confundem a palavra com a demagogia, apenas afina o delírio de um carreirismo cobarde.

Estatuto Editorial


Os convidados a escrever neste blog devem pautar as suas intervenções pelo apego ao pensamento, à cultura, ao saber e às humanidades e artes, devem fazê-lo sem sectarismo (embora possam tomar partido), com respeito e convivência (mais ainda que simples tolerância), imbuídos de um espírito construtivo de concórdia, sem demagogia, sem enveredar por questões mesquinhas, sem ataques pessoais. Com amor à democracia, ao progresso e à justiça sociais, à solidariedade e à paz.
Ou, por outras palavras, quem aqui escrever deverá aderir globalmente (e cum grano salis, evidentemente) aos valores e aos princípios da Constituição da República da Lísia.
Postas estas recomendações, é evidente que cada um dos co-autores desta Casa é responsável pelas opiniões que emite. E tem naturalmente orgulho em defendê-las.